Ao retornar para casa depois do almoço, parei para tomar um caldo de cana junto a uma vendedora de rua que vejo quando saio de casa. Como bom observador, e usando do (pré) conceito que normalmente todos tem, imaginei que ela fosse crente devido as roupas que usava. Pedí três copos de caldo (com limão) já que estava acompanhado de minha esposa e filha. Sentamos em três banquinhos de plástico, debaixo de uma sombra para tomar o caldo. E aí ela começou a falar:
– Você tá vendo aquele saco de plástico na rua? Você sabe que estou observando ele faz tempo? Já voou para aqui perto, subiu o viaduto e agora está de volta. Vai e vem, de acordo com o vento e as vezes não consegue desviar dos carros e ônibus. Assim é a nossa vida, dependendo se estamos com Deus ou não.
Opa! Liguei “o sinal de alerta” e dei um belo sorriso. Afinal de contas aquela senhora é, realmente, alguém que segue a Cristo. Logo todos nós começamos a conversar, e compartilhar verdades que só aqueles que O conhecem podem falar.
Enquanto tomávamos o caldo de cana e ela ia trocando o dinheiro para nos dar o troco, nos apresentou sua filha que veio da Bahia. Chegou até a dizer que a prefeitura estava atrasando o envio do boleto que ela normalmente paga para trabalhar.
– Você sabe que eu já ganhei para Jesus 3 policiais?
– Não, não sei não… Disse eu, sorrindo.
E aí ela falou de algo mais que do que esmagar cana com limão. Falou do Cabo “Sicrano” e do Sargento “Fulano”, do testemunho que os dois estão dando “para a glória de Jesus“. Falou também de três ex-moradores de rua que ela ajudou a levantar quando estavam deitados na mesma praça em que ela trabalha. “Um deles, meu filho, já é obreiro de um centro de recuperação”, disse ela toda contente. Só sei que a conversa na praça ao gosto do delicioso caldo de cana nos fez sentir o Reino ao nosso redor. Fomos embora (sem pressa) para casa.
Em 2014 teve um encontro para sensibilizar o movimento Business As Mission (“BaM”, ou Negócios como Missão) em Curitiba, que eu não pude ir, infelizmente, por motivos de saúde. Mats Tunehags e Craig Shugart vieram para palestras específicas, e também dar um curso intensivo importante para aqueles que querem aprender mais sobre o tema.
É incrível como complicamos as coisas no nosso dia-a-dia. Muitos conhecem a frase famosa do Pacto de Lausanne, “O Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”. A MissioDei (Missão de Deus) é holística, pois alcança o homem em todo o seu contexto, em todo lugar. É por isso que a palavra “Ministério” está muito além do clero e do templo. É serviço real para as necessidades reais do homem. É no dia-à-dia que o Emanuel se faz presente, nos dando oportunidades sem fim de demonstrá-Lo para aqueles que estão sentados perto de nós, estejam eles onde estiverem.
Em nossa experiência pessoal em um país africano com restrição ao Evangelho, essa verdade ficou bem nítida. Não porque precisávamos de um visto de negócios para ficar no campo, muito menos para “fazer contatos” e nos dar “uma chance” de falar de Jesus. Estávamos lá para fazer amigos e, consequentemente, torná-los amigos de Deus através da ação do Espírito em nós e através de nós. Isso em palavras (falando) e em ações (caráter), pois os dois andam juntos. Viver a vida holística de Jesus não é uma idéia nova, não é apenas uma estratégia missionária para campos em restrição. É ser enviado como Ele, tal qual o Pai o enviou.
Negócios como missão (“Business as mission“) é deixar com que o propósito maior tome conta dos negócios que realizo, através dos dons e talentos que Deus em Sua infinita graça me deu. Assim meu trabalho se torna palco da Graça. Usando o lindo exemplo desta senhora vendedora de cana da Assembléia de Deus, dá para averiguar algumas verdades sobre Business As Mission:
1) Negócios como missão é enxergar Deus e Seus atos no meu trabalho, até mesmo aprender com um saco de plástico que voa com o vento e fazer com que uma coisa simples como essa (do meu cotidiano), se torne uma oportunidade de aprender mais d’Ele para poder ensinar mais d’Ele;
2) Negócios como missão pede atuação precisa, pois o local onde estou e o que faço podem ser instrumento da ação de Deus para o meu próximo. Suas ações podem invadir um restaurante na periferia do Cambodja, um escritório de advocacia na Asa Sul (Brasília), como também uma praça em Uberlândia. Toda formação é valida e muito bem-vinda, e que estejamos prontos para coloc meus talentos aquilo que Ele tem feito em mim e por mim. Meus clientes são alvo da Sua ação amorosa.
3) Negócios como missão é fazer a coisa bem feita, pois eu reparei que seu “amassador de cana” (não sei o nome daquela máquina) estava limpo e que até mesmo a lata de lixo era arrumada. Não havia um lixo sequer no chão e o sistema de transporte dela (“carrinho”) era bem prático e móvel. Ela paga os impostos normalmente, tal qual a prefeitura pedia. E produzia um caldo de cano de boa qualidade, dando a opção do limão para o cliente;
4) Negócios como missão é ver resultados, pois ela me disse que muitos passam ali para beber o caldo de cana, o que eu não duvido por causa do sabor. Portanto, é dar/servir/proporcionar um serviço/produto de verdade. Não é uma isca para se pescar homens. E por este negócio ser uma missão, traz também rentabilidade para que a senhora consiga pagar tudo que precisa, trazendo resultados para o Reino também. Até mesmo policiais e moradores de rua podem ser alcançados.
E assim voltei para casa com essas lições na cabeça.
Não sei se você terá o privilégio de conhecer essa senhora e se deliciar com seu caldo de cana, mas compartilho aqui com você uma palestra do Mats Tunehag sobre “Negócios como missão”. Que o Senhor nos abençoe e nos faça abençoadores.