No dia 17 de Janeiro de 2015, na cidade de Niamey, Niger, aconteceu o que podemos chamar de “o Sábado Negro”. Acredito que foi o dia mais difícil na história do cristianismo no Niger, foi como uma onda devastadora que surgiu e levou consigo tudo o que era material e de valor sentimental para o povo de Deus.
Por causa dos acontecimentos na França, sobre as sátiras feitas contra o profeta Maomé, e também a marcha de “Jê suis Charlie” muitos países foram atingidos pelos radicais islâmicos em muitas manifestações por todo o mundo, mas em toda a história do Níger nunca se havia falado sobre algo parecido, uma multidão que impulsionada pela ira decidiu descontar sua indignação em nossas igrejas, organizações cristãs, um orfanato, restaurantes e três escolas cristãs.
Foi neste dia tenebroso que invadiram nossas duas igrejas com pedaços de pau em mãos e ódio em seu coração, quebrando, saqueando e incendiando os dois templos de nossa organização sem deixar nada para trás.
Um de nossos pastores chamado Moussa, estava em sua casa anexada à igreja quando ouviram gritos de manifestantes e moradores que tentavam lhes impedir, o pastor saiu de sua casa e ficou de longe somente observando quando eles pegavam também seus pertences e tudo o que havia em sua casa para ser queimado.
“Quando vi que estavam saqueando e queimando meus pertences, não me importei tanto, mas o que me tocou profundamente foi vê-los saqueando, queimando e profanando a “casa do Senhor” “diz pastor Moussa após o acontecido.
A igreja perdeu instrumentos musicais, microfones, caixa de som, cadeiras, púlpito etc., nesta igreja havia também um ateliê de costura onde a esposa do pastor ensinava mulheres muçulmanas a costurar e lhes falava de Jesus, no local havia 35 máquinas, algumas delas haviam sido compradas recentemente, mas não sobrou nada também.
Em outro bairro nossa igreja também perdeu tudo, a salinha das crianças que era em palha foi totalmente queimada, livros, instrumentos musicais, caixa de som e microfones foram roubados e colocaram fogo no que sobrou. Segundo contam os moradores, o estrago só não foi maior porque acabou a gasolina no momento em que estavam lá.
No mesmo bairro, há algumas quadras de distância localiza-se nossa escola, Anoura, com 372 alunos matriculados, que desde 2006 está legalizada.Adamou, zelador da escola, sua esposa e cinco filhos precisaram se esconder para não serem atacados pelos manifestantes, seu cachorro que estava preso a uma árvore no quintal da escola foi queimado vivo e também perdeu sua moto em meio ao fogo que se alastrou.
A parte da administração foi totalmente comprometida por causa do incêndio, ali estavam todos os armários contendo documentos dos alunos e da escola, um caixa com dinheiro de alguns professores e funcionários, além de uma sala onde se guardava os alimentos e os utensílios de cozinha. Tudo o que não foi queimado, foi destruído.
As primeiras salas foram as mais afetadas pelo fogo, as outras salas e os banheiros foram quebrados e saqueados. A fumaça negra invadiu o céu de Niamey por horas, 45 igrejas foram queimadas ao total. Muitos cristãos após este ataque têm sido perseguidos ou ameaçados, mas em meio a tudo isso Deus tem levantado sua igreja em um mesmo espírito de união, os muros caíram, as placas foram arrancadas, e agora não existe nada que possa dividir o Seu povo.
‘’Algo novo Deus fará nestes dias! Hoje nasce uma igreja que não precisa de templos, uma igreja que está nas ruas, nas escolas e nos hospitais. O perdão e o amor que demonstrarmos neste momento a todos estes que, sem saber o que fazem, destruíram nossas igrejas, isso sim vai falar aos seus corações mais do que todas as pregações que já fizemos até hoje.” diz missionária brasileira.
Deus nos dará tudo novamente, e a certeza que temos é que Ele está no controle nos é mostrada também pelo fato de nenhum cristão ter sido morto em meio a todo esse confronto. Deus guardou o seu povo, e uma nova esperança colocou em seus corações. O Níger vai presenciar o cristianismo mais ativo do que nunca, e isso vai mudar a história desse País em nome de Jesus!
Texto de A. F , missionária no Níger ( sua identidade foi preservada por questões de segurança)