O retrato que o livro de Jonas desenha de Deus é, sem dúvida, belo. Ele é apresentado como aquele cujas ações não podem ser preditas ou controladas. Ele detém o total controle sobre os elementos da natureza: envia a tempestade (Jn 1.4), e a acalma (Jn 1.15); envia o grande peixe, e o faz entregar Jonas em segurança (Jn 2.15), mostrando que Deus é aquele que é capaz de trazer a tempestade, mas também provê a libertação; ele faz uma planta crescer em uma velocidade incrível, e também usa um verme para fazer seu plano acontecer (Jn 4.6). Não há como esconder-se dele (como lemos também no Salmo 139)1.
Além disso, como é possível notar a partir das três declarações de fé bem ortodoxas de Jonas, ele é o Deus todo poderoso que fez os céus, o mar e a terra (Jn 1.9); é aquele que provê a salvação (Jn 2.9b), e é “Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar mas depois te arrependes” (Jn 4.2b).
De acordo com McKeown, “O livro de Jonas mostra que esses conceitos de retribuição divina e de compaixão divina não são mutuamente exclusivos”2. Ele é um Deus que perdoará quando ocorrer arrependimento genuíno. “Assim, apesar de o livro de Jonas defender uma visão de Deus como justo juiz que irá punir os perversos, equilibra isso com a mensagem de que Deus atende àqueles que clamam a ele por misericórdia (Jn 4.2)”.3 Por isso, não hesita a “mudar de ideia” ao ver o povo de Nínive afastando-se de seus maus caminhos (Jn 3.10).
Exatamente por conta de quem Deus é, não é de se estranhar que a salvação não seja um direito exclusivo do povo eleito, e essa é a segunda importante lição que Deus está comunicando por meio de Jonas a Israel (ou lembrando-os do que já sabiam) e a todos que, hoje, querem ouvi-lo.
Os marinheiros, no capítulo um, com seus diferentes deuses, ouviram, possivelmente pela primeira vez, a respeito do verdadeiro Deus, criador dos céus e da terra. Como resultado, oraram a Deus e ofereceram seus votos.
O livro mostra como YHWH importa-se com seu relacionamento com outras nações e até mesmo com os animais, não apenas com os que são parte do povo de Israel. “Todos os seres humanos que aparecem no livro clamam por misericórdia e Deus os atende”.4
Com exceção de Jonas (o único na história que pertencia ao ‘reino sacerdotal’), “todos os demais personagens da história, incluindo os animais, obedecem a Deus sem hesitar”5, mostrando que pessoas de outras nações estavam abertas a Deus, incluídas em seus propósitos e ao seu alcance.
O Senhor não está restrito a um grupo ou a um povo para fazer seu nome conhecido entre as nações. Israel estava falhando em cumprir sua missão até mesmo para os vizinhos mais próximos, e Deus levanta Jonas para ir a uma nação inimiga distante. “Se aqueles que supõem serem os ‘eleitos’ de Deus falham em sua missão, o soberano Senhor da salvação encontrará seu próprio caminho para comunicar suas misericórdias salvadoras ao mundo perdido”6.
Ao estudar o texto bíblico, há sempre o perigo de ler demais no texto. Mas, se quisermos extrair o máximo possível a respeito do que o Senhor quer comunicar aos cristãos hoje, vale a pena correr certo risco. Como apresentado anteriormente, fica claro que o livro de Jonas, quando visto como registro histórico, escrito antes do exílio, tem muito a contribuir para nosso entendimento que quem é Deus e de seus planos para toda a raça humana.
No entanto, como conclusão, uma última pergunta deve ser feita: há algo que o movimento missionário evangélico ao redor do mundo possa aprender com o livro de Jonas?
De forma muito breve, menciono 6 lições:
De outro lado, a Igreja no ocidente, que supostamente detém a profundidade teológica, tem enviado poucos missionários a cada ano, apesar de possuir recursos financeiros para isso.