“Quem são esses ‘duongs’ que estão dispostos não apenas a viverem entre nós, mas também a morrerem pelo seu Deus entre nós?”
(Povo Yali)
O povo Yali na Papua Nova Guiné era hostil, selvagem guerreiro e canibal. Imersos nas suas crenças e tradições, mesmo com o avanço da evangelização e da presença missionária em meados dos anos 60, esse povo ainda se mantinha resistente à presença e abordagem missionária.
Os Yalis foi alcançado pelo missionário australiano Stanley Dale (Stan), que visitou pela primeira vez a Nova Guiné quando ainda estava no exército durante a Segunda Guerra Mundial. Foi nessa ocasião que ele, Stan, viu pela primeira vez as altas montanhas do interior e decidiu que um dia voltaria para levar a mensagem do amor de Deus às pessoas que viviam naquelas áreas remotas.
Após o término da Segunda Guerra, Stanley Dale completou sua educação bíblica, se casou e começou seu treinamento para alcançar os nativos das terras altas da Nova Guiné. Stanley foi recusado por várias sociedades missionárias, até que em 1947, foi aceito indo para Nova guiné, onde trabalhou até 1960 com as tribos das terras baixas. Até então, alguns poucos povos de ilhas mais próximas do contato com a civilização, e outros das montanhas mais acessíveis já haviam sido abordados pelos duongs (homens brancos) e ouvido histórias sobre um Deus que havia morrido e voltado a viver.
Finalmente, em 1961, com a ajuda de um nativo convertido, Stan fez sua jornada até o Vale Heluk onde fizeram contato com a tribo Yali. Stan acreditava que mesmo o mais violento canibal Yali tinha uma alma que valia a pena salvar porque era a imagem de Deus.
Enquanto o Evangelho florescia na extremidade superior do vale, os que viviam na parte inferior, ainda permaneciam na “escuridão”. Dois jovens cristãos Yali, Kekwara e Bengwok, desceram ao vale para anunciar o Evangelho, mas foram atacados enquanto pregavam. Com a notícia das mortes dos dois jovens, Stan resolveu ir à aldeia, e também foi atacado sendo atingindo por cinco flechas, ferido, foi ajudado a voltar para o acampamento e depois foi socorrido e levado para um hospital missionário.
Dois meses depois, Stan voltou a trabalhar entre os Yali, ele estava decidido que a obra de Deus deveria continuar. Por causa do ocorrido, o povo dizia: “uma ou duas flechas matariam um homem comum, então esse homem deve ser um deus”. Era como a história dos “tal de Jesus”, que também havia ressuscitado.
OS PRIMEIROS FRUTOS
Dessa forma, Stan foi capaz de alcançar uma tribo com as Boas Novas de Jesus Cristo exigindo que eles abolissem totalmente suas formas animistas de seguir Jesus – sem misturas e combinações. Algumas pessoas das associações missionárias criticaram essa postura de Stanley Dale e acharam que ele era muito exigente para continuar servindo no campo missionário.
Contudo, depois disso, houve um avivamento e não só aquela tribo começou a seguir Jesus de todo o coração, várias outras tribos vizinhas seguiram o mesmo caminho. Stan fortaleceu a Igreja no vale superior de Heluk e os novos convertidos nativos espalharam o evangelho na região leste do vale, sendo calorosamente recebidos por muitos nativos. Mas, na região oeste e no vale inferior, os líderes tribais, especialmente os feiticeiros, ameaçaram Stan, jurando nunca desistir de seu modo de vida e que matariam o homem que tentasse “pervertê-los”.
VIDAS COMO SEMENTES
“Como ele pode ficar ali tanto tempo? Por que ele não cai? Qualquer um de nós já teria caído! Talvez ele seja imortal!”
Após dois anos, o peso das almas a serem salvas no vale inferior, levou Stanley Dale a tentar mais uma vez alcança-los. Na quarta-feira, dia 18 de setembro de 1968, Stan, acompanhado de seu amigo Phil Masters, missionário americano com quem havia acabado de começar a trabalhar, e mais quatro ajudantes tribais, começaram a jornada rumo ao Vale Seng. Eles foram recebidos por guerreiros armados quando chegaram na primeira aldeia. A crise imediata foi contornada e haviam decidido retornar dali no dia seguinte.
Mas, as demais aldeias já haviam sido alertadas da presença deles e seus guerreiros haviam combinado que aqueles portadores da “religião estranha” deveriam morrer. Quando Stanley Dale e Phil Masters e a equipe de ajudantes tribais deixaram a aldeia, foram seguidos pelos guerreiros. Em dado momento, Stan parou, os encarou e levantou seu cajado, não com ameaça ou raiva, mas na intenção de os impedirem a continuar os seguindo, como que pedindo para que os deixassem partir em paz.
Naquele momento, um sacerdote Kembu (religião tribal) chamado Bereway, veio sorrateiramente por detrás de Stan e o atingiu com uma flecha, como que a “queima-roupa”, bem abaixo de seu braço erguido, enquanto outro sacerdote tribal, Bunu, lançou uma haste com lâmina de bambu nas costas de Stan. E assim outros guerreiros começaram a atirar suas flechas atingindo Stan de várias posições, enquanto ele, Stan, as arrancava de seu corpo, as quebrava e jogava sob os seus pés.
Quando Nalimo, chefe da tribo, chegou ao local cerca de 30 flechas já havia atingido o corpo de Stan. Diante da cena, Nalimo assustado disse: “Como ele pode ficar ali tanto tempo? Por que ele não cai? Qualquer um de nós já teria caído! Talvez ele seja imortal!” O rosto de Nalimo derreteu com uma emoção repentina, a flecha do temor o acerto em cheio!
O ataque começou com hilaridade, mas passou ao desespero. Enquanto os guerreiros atiravam as flechas contra Stanley Dale, passaram a gritar: “Fall! Fall!” (Morre! Morre!). Entraram em pânico porque Stan não caía, sendo seus gritos como um apelo de: “Por favor, morra!” Quem sabe não pensassem agora que estavam cometendo um erro, um crime monstruoso contra o mundo sobrenatural o qual pretendiam defender.
Neste momento Yemu, um dos ajudantes tribais da equipe de Stan, correu para onde Phil Masters estava sozinho. Juntos assistiam angustiados o martírio de Stan, momento em que cerca de 50 ou mais guerreiros se deslocaram do grupo de ataque a Stan em direção a eles. Phil empurrou Yemu para atrás de si e, sem usar palavras, o mandou correr. Phil nem percebeu a horda de guerreiro que o cercava, pois, seus olhos permaneceram fixos em Stan Dale, que correspondeu ao olhar como que dizendo: “fique firme!”
Yemu não ouviu Phil Masters dizer nada contra os guerreiros, enquanto eles apontavam suas flechas para ele. Phil também não esboçou nenhuma reação de fuga ou de luta, seguindo o exemplo de Stan, enfrentou a morte de frente. Mais uma vez foi Bereway quem disparou a primeira flecha e, como contra Stan, os demais guerreiros passaram a atirar várias flechas a fim de derrubar Phil Masters.
Os ajudantes da equipe de Stan, Yemu e os outros três nativos, ficaram no local o tempo suficiente para perceberem que Stan e Phil não sobreviveriam. Eles se viraram e correram para salvar suas vidas. Enquanto corria um pensamento veio a mente de Yemu: “se eles nos matarem, não sobrará ninguém para contar as viúvas o que aconteceu e onde caíram!” Com esse sentimento, Yemu conseguiu voltar para contar a história do martírio de Stan e Phil.
UM NOVO SINAL
Quando a família de missionários Newman foi em busca deles, três meses depois do fato ocorrido, o avião que ocupavam caiu tragicamente no Vale Seng matando todos a bordo, exceto o filho mais novo, Paul Newman, que conseguiu escapar dos destroços em chamas e encontrar abrigo na cabana de um homem Yali, que não havia concordado com o assassinato dos missionários.
Quando o povo Yali descobriu que Paul havia sobrevivido, eles interpretaram isso como um sinal e convidaram os missionários para viverem em sua aldeia em Holuwan. Cinco anos depois, 35 novos cristãos foram batizados e uma igreja nasceu entre o povo Yali.
Foi essa impressionante história sacrificial dos missionários pioneiros Stanley Dale e Phil Masters, martirizados por uma tribo Yali, que abriu as portas para o alcance desse povo. Após o martírio dos pioneiros, e a queda do avião da família de missionários Newman, o povo Yali, passou a se perguntar: “Quem são esses duongs (homens brancos) que estão dispostos não apenas a viverem entre nós, mas também a morrerem pelo seu Deus entre nós?”
Essa indagação do Povo Yali, na Papua Nova Guiné, é uma boa aplicação do versículo de João 15:13, onde Jesus, falando de seu próprio sacrifício que aconteceria no Calvário, afirmou: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15:13).
Demorou um pouco para o Evangelho alcançar o povo Yali, mas seu impacto é impressionante. A teimosia de Stanley Dale foi usada por Deus para torná-lo capaz de desbravar territórios não alcançados por causa do Evangelho. Outro casal de missionários conseguiu fazer incursões na década de 1990.
OS FRUTOS DOS MÁRTIRES
“Agora, em vez de esperar pela guerra, a igreja Yali tem esperado por mais Bíblias em seu idioma.”
Desde o martírio dos missionários Stanley Dale e Phil Masters, que alcançaram o povo Yali, discipulando os primeiros convertidos, entre os quais os dois cristãos Yalis, Kekwara e Bengwok, também martirizados, outros mais foram se somando às centenas de outros novos irmãos e irmãs em Cristo das tribos vizinhas. Desta forma nasceu ali uma Igreja Yali forte que, em maio de 2011, completou 50 anos de uma vida servindo o Chefe de todas as tribos, o verdadeiro Senhor da Terra, Jesus Cristo, o Salvador!
Durante o último mês de agosto (2020), a MAF (Mission Aviation Fellowship) fez vários voos transportando Bíblias para o povo Yali. Eles receberam a primeira remessa com tradução em seu dialeto em 2000. Agora, depois de 20 anos, uma remota tribo de Papua Nova Guiné, recebeu 2.500 Bíblias 55 anos depois que dois missionários pioneiros Stanley Dale e Phil Masters terem sido martirizados quando tentavam alcançá-los com o Evangelho.
A MAF continua servindo o povo de Papua Nova Guiné, voando com oito aeronaves para 160 locais remotos e apoiando igrejas rurais, bem como projetos locais de tradução da Bíblia. A remessa de agosto levou 1.160 Bíblias e 1.400 livros com histórias infantis da Bíblia traduzidas para a língua Yali. Os exemplares foram distribuídos para as aldeias de Dekai, Oakbisik e Holuwan.
Linda Ringenberg, cujo marido, Dave, é copiloto da aeronave Cessna 208B, que carregou as Bíblias disse que quando os pilotos da MAF perguntaram aos Yali se poderiam retirar uma Bíblia e abri-la para uma foto em Holuwan, os moradores escolheram o Salmo 119:105:
“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho”.
Linda continuou: “agora, em vez de esperar pela guerra, a igreja Yali tem esperado por mais Bíblias em seu idioma. Porque Deus, em Seu amor que tudo alcança, trabalhou através de um assassinato, um acidente de avião, missionários fiéis, tradutores e organizações como a MAF, para que as tribos Yali não andassem mais no caminho das trevas. Seu caminho agora é iluminado pela Palavra de Deus”.
O AMOR QUE INVESTE
“Por causa de seu profundo amor por Jesus, Stan e Phil tinham um desejo de torná-lo conhecido de todas as pessoas.”
O que capacitou homens como Stan Dale, Phil Masters e os dois cristãos Yali, Kekwara e Bengwok, a não só arriscarem como perderem suas vidas tentando levar o evangelho a um povo violento e hostil? Como tantos outros foram e são capazes de passar suas vidas em tarefas semelhantes, abandonando o conforto de suas casas para ir e viver em lugares totalmente diferente de sua cultura, entre povos muitas vezes hostis a estrangeiros?
O livro “Lords of the Earth” (Senhores da Terra), de Don Richardson, fala da vida dos missionários Stanley Dale e Phil Masters que alcançaram o Povo Yali, sendo um clássico das missões transculturais. Nesse livro você encontra o incrível relato da história desses missionários, especialmente de Stanley Dale, cuja vida foi marcada por um grande desafio: levar o evangelho aos Yalis, selvagens guerreiros canibais da Nova Guiné.
Uma das últimas comunicações recebidas pelo escritório central de Stanley Dale trazia o seguinte comentário e pedido que são significativos:
“Tenho um peso por esses lugares onde o caminho é difícil. Por favor, continue orando pelo povo do Holuk para que eles possam se libertar de suas feitiçarias e se declarar totalmente rendidos ao Senhor. Por favor, continuem a se lembrar de nós em oração, pois ainda carregamos alguns fardos pesados que não são encargos de trabalho.”
Por causa de seu profundo amor por Jesus, Stan e Phil tinham um desejo de torná-lo conhecido de todas as pessoas – especialmente aqueles Yalis que viviam em escuridão espiritual no Vale Seng.
Os mártires missionários Stanley Dale e Phil Masters não puderam ver o resultado de sua última resistência, mas nós podemos. Precisamos lembrar disso ao semear sementes que não têm um resultado imediato e visível.
Abaixo você tem um pequeno vídeo (em inglês) onde a esposa de Phil Masters e a filha de Stanley Dale contam um pouco sobre a história de como o compromisso, a obediência e o amor a Jesus desses dois homens comuns transformaram a história de todo um povo, mudando definitivamente o destino deles para a eternidade.
O texto e fotos acima foram compilados e adaptados à partir das seguintes fontes:
https://strengthenedbygrace.net/tag/missionaries/
https://craigmanderson.org/tag/stanley-dales/
https://www.christiantoday.com/article/2500.bibles.sent.to.remote.tribe.that.once.killed.missionaries/135657.htm
https://the-end-time.org/2014/12/07/sunday-missionary-moment-20th-century-martyrs-phil-masters-and-stan-dale-a-story-of-the-yali-and-kimyals/
https://portal.povoselinguas.com.br/artigos/resenha/senhores-da-terra/
http://iagenweb.org/monona/Honorees/Masters/MastersPhilip.html
https://maf.org.au/latest-news/the-celebration/