“E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo Israel.”
(Mateus 2:6)
O Evangelista Mateus frequentemente se refere ao Antigo Testamento para corroborar seus escritos. A profecia citada em Mateus 2:6 é uma paráfrase de Miquéias 5:2, profecia esta que foi anunciada sete séculos antes.
A frase “o Guia que há de apascentar o meu povo Israel” não está explícita em Miquéias 5:2, mas Mateus interpretou desta forma a parte que diz: “de ti me sairá o que há de reinar em Israel”. O termo “apascentar” é usado muitas vezes no Antigo Testamento como ato de “governar” e “pastor” é frequentemente usado para o “soberano” que reina (2 Sm 5:2, 7:7; Jr 23:1-3; Ez 34; etc.).
Muitos líderes religiosos nos dias do nascimento de Jesus, e durante todo seu ministério humano, acreditavam no cumprimento literal de todas as profecias do Antigo Testamento, portanto acreditavam que o Messias de fato nasceria como rei dos Judeus. Mas, quando o Messias, a quem estavam esperando, finalmente veio, não o reconheceram. Ironicamente, quando Jesus nasceu, estes mesmos líderes religiosos se tornaram seus maiores inimigos (Jo 1:11; 5:18; 11:47-57).
Quando o rei Herodes, conhecido como “Herodes, o Grande”, que era filho de Antipater, um edomita, foi feito rei pelos romanos em 43 a.C. (sua morte foi em 4 a.D – lembrando que nossos calendários estão errados em pelo menos quatro anos) ouviu dizer que os Magos do Oriente* estavam procurando em Jerusalém o Rei dos Judeus, o rei consultou os principais sacerdotes e escribas, dois dos grupos que compunham o Sinédrio. Deram-lhe como resposta a profecia de Miquéias 5:2 que cita Belém claramente como o lugar do nascimento do Messias (Mateus 2:1-6).
(*Magos do Oriente: indica originariamente a casta sacerdotal entre os persas e babilônios, homens respeitados de uma religião oriental que tiveram contato com os judeus exilados, especialmente com as profecias e a influência de Daniel. Leia Dn 2:2, 48; 4:6, 7; 5:7).
Encravada na memória de muitos de nós que, regularmente celebramos o Natal, está a citação que Mateus faz, em seu evangelho, com base em Miquéias 5:2. A cidade de Belém, no hebraico “casa do pão” (isto é, do alimento) era uma cidade na Palestina, perto de onde Jacó sepultou Raquel, e que na época era conhecida como Efrata (Gn 35:19; 48:7), razão pela qual também é denominada Belém-Efrata (Mq 5:2). Outros nomes aplicados a cidade são: “Belém de Judá” (1 Sm 17:12); “Belém da Judéia” (Mt 2:1) e “Cidade de Davi” (Lc 2:4; Jo 7:42).
O profeta Miqueias, setecentos anos antes de Cristo vir ao mundo, demonstra com clareza os detalhes da sua vinda. É preciso lembrar que José e Maria moravam em Nazaré (Lc 1:26-27, 2:4; Mt 2:23) e o motivo de Jesus ter nascido em Belém e não em Nazaré está em Lc 2:1-7, onde podemos verificar a Soberania de Deus exercida através de um “Decreto de César Augusto” (Lc 2:1) para fazer cumprir a Profecia de Miquéias sobre o nascimento do Messias (Mq 5:2) citada por Mateus (Mt 2:6).
O Antigo Testamento contém centenas de profecias a respeito do Messias que viria. Miqueias e Isaías fazem as duas profecias mais claras sobre a encarnação do Senhor. Isaías prediz seu nascimento da virgem (Is 7:14; Mt 1:22-23; Lc 1:27,34-35). Miqueias fala sobre o lugar em que ele nasceria de maneira tão clara que, muito tempo depois, quando os magos perguntaram a Herodes onde o rei dos judeus deveria nascer, os escribas responderam sem hesitar:
“Em Belém da Judeia […] porque assim está escrito por intermédio do profeta” (Mt 2:5 – Mq 5:2).
Dessa forma, a Palavra de Deus deixa claro que o Messias não deveria nascer em qualquer lugar ou em qualquer época. Miqueias indica o local exato (Mq 5:2), Lucas acrescenta o tempo específico (Lc 2:1-7) e Paulo deixa claro que foi na “plenitude do tempo” (Gl 4:4), que no original significa: “no tempo propício, exato, na medida certa para realização ou cumprimento”, no caso, no “tempo determinado por Deus” (Gn 49:10; Is 9:6-7; Lc 2:11; Jo 1:14).
Mas, o que muitos esquecem é o fato de que há uma segunda parte na Profecia de Miquéias, a qual não é citada por Mateus, que estava na mente da maioria dos judeus familiares com esse profeta menor, que faz dela uma profecia tão grandiosa. A segunda parte do trecho é, na verdade, o que faz com que a primeira metade seja tão significativa. A segunda parte diz: “Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos” (Mq 5:2b).
Jesus não passou a existir quando nasceu em Belém. Embora sua vida na terra tenha começado quando ele encarnou, Jesus é o Eterno Filho de Deus, que existe por toda a eternidade (Jo 1:1-4). Somente sendo o Deus-Homem, Jesus pôde/pode cumprir as expectativas proféticas. Somente um ser eterno pode ser um Rei Eterno sobre um Reino Eterno, como a Bíblia disse que seria.
Somente o ser completamente justo poderia/pode reinar em justiça, retidão e paz, tanto como Salvador quanto como Juiz (Is 9:6-7; Jo 3:16-19; 5:28-30; 8:16). Somente Jesus poderia cumprir as profecias e ser, ao mesmo tempo, “Filho de Davi” (2 Sm 7:12-16; Sl 132:11; Mt 1:1; Lc 1:31-33) e “Filho de Deus”(Lc 2:11; Jo 1:1,14; Rm 1:3-4; Fp 2:6-11; Hb 1:1-5).
Sim, os versículos de Miquéias 5:2-4 são uma profecia messiânica direta dizendo que o futuro “Rei das Nações” não é outro senão Jesus – o “Filho de Deus” que se tornou “Filho do Homem”, que nasceria (nasceu) em Belém e, num futuro próximo, finalmente, reinará não só sobre Jerusalém, mas até “os confins da terra” (Sl 98:3; Is 52:10; Mq 5:4; Zc 9:10; Mt 16:27-28, 19:28; At 1:8).
A revelação do Messias nesta passagem é deveras plena. Ele é visto primeiro como a criança nascida em Belém sendo apontado como o Eterno, cujas atividades têm sido desde a eternidade. Seu governo de Pastor é revelado em seguida como Pacificador (o que faz a Paz) e grande Libertador do seu povo. Ninguém jamais foi tão humilde quanto Ele, e ninguém jamais foi tão majestoso. Demonstrando que Jesus Cristo é absolutamente suficiente para os seus.
Em sua profecia Miqueias retrocede até as origens e descobre que esse Rei e sua missão já estavam presentes na aurora do mundo. Ele não é, portanto, uma tentativa de remendar o plano de Deus, frustrado pelos desatinos dos homens, mas tem nEle seu lugar previsto e reservado: “e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” afirmou o Profeta (Mq 5:2).
O Príncipe da paz não apenas reina, mas também apascenta o seu povo (Mq 5:4-5). Ele não apenas está no trono acima do seu povo, mas também está ao lado do povo, no meio do seu povo como o Bom Pastor, ou seja, Ele não apenas reina, mas também, pastoreia. O Príncipe da Paz é o Rei que vem para apascentar o seu povo com segurança (Is 9:6-7, 40:10-11). Suas ovelhas ouvem sua voz e o seguem, jamais deveriam seguir o estranho. Suas ovelhas recebem a vida eterna e ninguém pode arrebatá-las de suas onipotentes mãos (Jo 10:26-30). Ele é o grande Pastor que vive pelas ovelhas (Sl 23), morre pelas ovelhas (Sl 22) e Ele é o Supremo Pastor que voltará para as ovelhas (Sl 24; 1 Pe 5:4).
Por isso, o engrandecimento do Rei Pastor (Mq 5:4) que “será ele engrandecido até aos confins da terra”. Jesus não é pastor apenas de Israel, de um povo, de uma nação. Sua igreja não tem fronteiras raciais nem culturais. A igreja é formada tanto de judeus quanto de gentios. A igreja é transcultural, interdenominacional e universal (Gl 3:28). O Rei Pastor estende seu pastoreio até aos confins da terra porque morreu para comprar com o seu sangue os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação. O reino do Messias é um reino mundial, seguro, pacífico e eterno (Jo 10:11,17-18; Hb 13:20; Ap 5:9).
O reinado de paz do Rei Pastor é uma “Reinado de Paz”. Jesus fez a paz pelo sangue da sua cruz, ele é a nossa paz e nos dá a paz. Por meio de Cristo, temos paz com Deus (Rm 5:1) e a paz de Deus (Fp 4:7; Cl 1:20), sendo por isso uma paz tanto posicionai quanto circunstancial. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” (Jo 14:27). De fato, a nossa paz não é a “ausência de problema” nem apenas presença de coisas boas, nossa paz é uma pessoa. A nossa paz é Jesus, como afirma o Profeta “Este será a nossa paz” (Mq 5:5; Is 9:6).
A paz de Cristo não é imposta. Ele mesmo é a paz. A paz que Ele dá é uma paz universal, implantada no coração humano (Lc 17:21), e não o resultado de uma pressão externa. Essa não é a paz instável da política humana, mas a paz duradoura da reconciliação com Deus por intermédio do nosso Senhor Jesus Cristo (Lc 2:14; Ef 2:14-17).
O Rei de Israel não veio de modo próprio, foi enviado pelo Pai. Sua vinda não foi um acidente, mas uma agenda traçada na eternidade e confirmada ao longo dos séculos. Ele foi prometido. Os patriarcas falaram dEle. Os profetas apontaram para Ele. Os sacrifícios do templo tipificavam sua morte. Ele nasceu sob a lei, cumpriu a lei e é o fim da lei (Lc 24:25-27,44-48).
O Criador do universo, o Rei da glória, em sua encarnação, esvaziou-se e humilhou-se de tal maneira que nasceu numa manjedoura e agonizou numa cruz (Lc 2:12,16; Fp 2:5-10). Mas, o maior significado, tanto de seu nascimento quanto sua morte, está no fato de que nestes acontecimentos estão tanto a absolvição do castigo merecido (salvação) quanto o veredito da condenação eterna para os que não creem (Jo 3:16-19,36; Ap 19:11-16).
Que o Natal seja de fato uma boa notícia à todos os povos. Que todos saibam, e nós nos lembremos, de que há sim nEle Salvação para todos os povos, “até os confins da Terra” (Mq 5:4; At 1:8).
por Anderson Fazzion
WH Brasil
O texto acima é baseado na mensagem “Um profeta menor com uma grande mensagem” (título link) com compilações de comentários da “Coleção Comentários Expositivos Hagnos” (Pr. Hernandes Dias Lopes) usados em meditações diárias pessoais.